sábado, 2 de março de 2019

Está um lindo dia de sol, ouço os passarinhos, parece primavera.
E eu? E a minha vida?
Penso que a minha vida até podia estar pior, o meu marido foi com os escuteiros, quando ainda ontem foi fazer quimioterapia. Tenho uma casa linda, tenho a possibilidade de vir trabalhar para ao pé de casa, de poder acompanhar mais o meu marido, de trabalhar para mim própria. Sim, isto é tudo muito simples pensando racionalmente.
Assusta-me o tratamento do meu marido, tenho medo que algo não corra bem e depois o resto, tenho tanto tanto medo. Imagina-lo tanto tempo fechado num quarto... tanto tempo sem ele aqui em casa, imaginar que vai ter que levar com alta dose quimioterapia e o pior de tudo, esta menina... nem quero escrever aqui para tentar não pensar.
A mudança que vou fazer, tenho medo da mudança. Vou deixar as minhas colegas, vou deixar uma das melhores pessoas que conheci, que me alegra tanto os meus dias com o sorriso dela, com aquela alegria, a quem conto os meus medos, e sabe sempre fazer-me ver as coisas de forma descomplicada. Tenho muito muito medo de me vir a sentir sozinha. Tenho muito medo de depois me sentir uma pessoa mais triste.
Vou ter que arranjar tempo e força para não desistir do ginásio que é das coisas que mais bem me faz.
Vou ter que organizar as minhas rotinas.
E depois os homens... Cada vez estão a ter menos importância, e apesar de tudo, ajudavam-me muito, conseguiam-me iludir e ao iludir davam-me vontade para continuar, vontade de me arranjar, de me cuidar, faziam-me sonhar. Acho que os homens foram muita vezes a minha força.

Perante isto tudo tenho que conseguir continuar porque a vida não pára. Mas em mim é muita coisa, é muita mudança. É muita bagunça na minha cabeça.
Às vezes quero ser a mulher perfeita, mas vi que isso para mim é impossível. Deixar de haverem homens na minha vida, parece que é apagar a minha natureza. Muitas vezes sofro com isso porque a coisa que mais queria neste momento é fazer o meu marido o mais feliz possível, porque amo-o tanto. Há coisas que tenho que saber aceitar, não me martirizar com isso e saber conciliar, porque enquanto tenho isso vai-me ajudando. Será que depois vou conseguir arranjar tempo e forma de o fazer?  Outra coisa que me assusta.
É como se dentro de mim só existissem monstros, monstros, monstros e eu tenho que lutar contra eles. São tantos, são tão fortes e eu tenho que ser mais forte do que eles.
A minha filha, saber conciliar tudo com ela. O pai sempre foi o pilar dela, em tudo, o exemplo para ela.
Já tive mais força, já estive mais otimista. Agora está-me a vir o meu "modo complicado".

Agora que já desabafei o pior, vamos descomplicar a vida.



Sem comentários:

Enviar um comentário